O Doce Amargo da Vida
Bom dia meus queridos amigos. Peço desculpas aqui por fazer mais de uma semana que não dou as caras. A Copa da Rússia já deu o seu adeus e eu nem sequer comentei algo sobre o resultado.
Nesses dias, várias notícias deixaram o mundo em alerta, como aquela sobre os garotos que estavam presos em uma caverna na Tailândia. Eu fiquei aqui, perdido em minhas neuras, para não dizer que estava perdido em meu labirinto emocional.
Não passa em minha mente, em meus pensamentos, desistir. Não mesmo! Mas se for uma fatalidade, não sinto medo. Nem sei se isso que acabei de escrever expressa justamente o contrário, que seria um medo pavoroso de morrer.
Eu penso que tenho tantas coisas ainda a fazer, a realizar. Não cheguei nem na metade de tudo aquilo que almejo. E olha que já tenho meio século de vida.
Estou afundando e não tenho resposta para muitas das perguntas que me fazem. Apenas tenho que observar e tentar entender tudo que está ao meu redor.
Tenho me sentindo ferido, invadido, estuprado emocionalmente. Não sei se existe esse tipo de emoção e se muitos entenderão o que tenho passado. Tampouco sei se isso se assemelha a morte humana.
Eu tento olhar o mundo de tal forma, de modo a ver aqueles que realmente estão em seus desesperos, em suas agonias, para ter, de certa maneira, um frescor em minha alma. Porém, eu não sei o que fazer com o meu próprio lixo emocional. Com isso, o alívio que busco nos sofrimentos dos outros evapora-se como uma gota em meio a um sol escaldante.
Não sei por que reclamo tanto!
Hoje tenho algo pelo qual lutei tanto: minha linda e bela namorada. Quero muito levar tudo isso a sério, dedicar cada carinho meu, cada sentimento de amor, cada doce momento ao lado dela. Isso tem me trazido um sentimento de muito respeito a quem, ao meu lado, se mostra muito viva. Agradeço a ela por me permitir fazer parte de sua vida e estar em um lado especial de seu lindo coração.
Além desse lindo amor que hoje tenho comigo, mesmo diante de nossas imensas dificuldades, que nos impedem de estarmos juntos, de sairmos de mãos dadas, de trocar olhares e um delicioso sorriso, tenho grandes objetivos e acredito neles.
Nas noites aqui no meu quarto de hospital, enquanto compartilho momentos divertidos ao vivo, tenho feito fãs e amigos. Me atrevo a dizer que o mundo, por meio da internet, me assiste e oferece palavras de incentivo e muito amor.
A questão, no entanto, é que aqui onde vivo eu não sei o que se passa. Durante minha vida, conquistei o que muito tenho hoje, e criei o que sou. Qualquer um que vier até mim verá uma marca registrada dos anos em que vivo neste leito hospitalar. Assim como também podem acompanhar que estou sendo obrigado a me desfazer de tudo aquilo que conquistei.
É muito fácil para estes que mal terminaram suas faculdades declararem suas leis, diante de alguém que não escolheu viver no lugar em que está. Esquecem que estou aqui praticamente a minha vida inteira -a exceção é de pouco mais de um ano.
Tenho certeza que eles não permitiriam que seus filhos vivessem em um hospital. Acredito que jamais deixariam isso ocorrer com seus entes queridos. Mas, de onde vem a culpa de eu estar aqui até hoje? Para estes, isso não interessa. O que importa é que, depois de 50 anos, tenho que me despedir de tudo aquilo que hoje tenho. Isso para mim é muito dolorido, amargo e desumano.
Mas, dane-se né? Não importa o que realmente sinto. Por isso preciso rapidamente dar as costas a tudo o que conquistei e procurar alguém em que eu confie, e que possa cuidar desse meu tesouro.
Hoje eu acordei bem cedo e pelo WhatsApp desejei um bom dia a minha amada e ao meu irmão. Perguntei para ele se teria lugar para guardar minhas coisas. Meu irmão fez uma série de questionamento que amargamente tive que responder.
Por um lado, fiquei feliz por sua resposta ser positiva: ele tem um lugar para preservar as minhas coisas, mas não me senti bem com o final da conversa. Depois do banho, aos retomamos o assunto, eu já estava me sentindo um verdadeiro lixo de tantas verdades que ele me ofertou.
Não tenho justificativas. É muito fácil eu dizer que ninguém está na minha pele e tal, que duvido muito que realmente levariam essa vida em frente. Porém, é muito difícil. Já em algum momento, em minhas antigas escritas, expressei que me sinto preso em uma camisa de força.
Meus pensamentos são dispersos e confusos e eu sempre tento, em minha possibilidade, organizá-los.
Não quero que sintam o que sinto, pois é demais dolorido. É demais amargo, é demais triste.