Mesmo nas perdas, existem vitórias
Meus amigos queridos e amados, hoje está uma manhã morna. Digo, com um sol tímido, mas um frio que nos oferta a preguiça de somente querer estar debaixo das cobertas para dormir. Ou, na melhor das hipóteses, assistir a um jogo da Copa acompanhado de uma grande caneca de chocolate quente.
Antes, há cerca de 15 anos, eu fazia isso. Aliás, se eu não me engano, devo ter ainda uma grande xícara azul de porcelana. Foi presente de uma amiga que deu o ar de sua graça no ano passado, após anos que a gente não se via.
Amiga de família judaica, que, além de sua companhia, me agraciava com doces das datas sagradas da comunidade. Passávamos as tardes em meios a minhas perguntas curiosas pela cultura e me lambuzando com doces encharcados de mel. Uma verdadeira delícia.
Mas essas gotas do passado estão bem distantes. Ainda sim, ela sempre será para mim uma linda estrela que permanece brilhando em meu céu.
Existem tantos outros amigos que, em meio ao tempo, deixam suas marcas de saudades. E, por motivos pessoais ou seja lá qual for, jamais retornam ao nosso lado. Sim, deram adeus mas marcaram sua presença. E no exato momento em que escrevo este texto lembro de suas faces e maneira de ser.
O que é viver em um lugar que fisicamente você não tem condições de dar um passo sequer? Preso em seu estado carnal, seu corpo declara guerra aos obstáculos a sua frente e assim nasce a revolta.
A descoberta de sentimentos amargos foram tantas em minha juventude. Mas hoje as vejo apenas como meros detalhes. Claro que naquele momento, eu perdido em tudo que desejava fazer e conquistar, não tinha muito discernimento. Tudo precisava ser da maneira que eu queria e, se não fosse, eu despejava blasfêmias. De certa maneira, a fúria aliviava.
Mas, quando surgiam esses momentos, depois vinha o arrependimento. E, além do perdão que eu pedia a Deus, eu me tornava um verdadeiro cordeiro aceitando tudo e todos.
Confesso, é como estou nesse momento. Um cordeiro, apenas observando, atento ao que a mim vier. Não que eu seja obrigado a aceitar tudo, mas tenho a sensação que é melhor assim. Porque, se eu desejar algo como eu gostaria que fosse, os olhares de mal agouro me cercam. Então tenho que admitir que é melhor o silêncio.
Peço desculpas se sem querer fiz algo que causasse desconforto. Não é minha intenção provocar mal estar nas pessoas que estão aqui para me ofertar o melhor, para cuidar de mim, para me dar conforto e saúde.
Bem, chega de lamúrias e vamos ao que recentemente aconteceu. Não digo que é uma perda. Aliás, tenho certa razão em afirmar que mais vencemos do que perdemos.
Acabei de ver na TV o grande herói que se despede desse lindo evento chamado Copa. Sim, como são gostosos esses momentos de duelos dentro de uma arena, que hoje chamamos de futebol.
Mas, voltando a esse grande herói que, de olhar triste, de cabeça baixa e quase não se permitindo os olhares daqueles que realmente o amam. Sai do apartamento que fora alojado durante essa festa e vai em direção ao ônibus que o aguarda para o destino do adeus.
Apesar de eu mesmo nunca ter participado de um evento assim, tenho uma certa sensação de como realmente deve ser estes momentos de despedida. O sentimento de frustração, ou mesmo de querer estar mais um pouquinho envolvido em sua maior paixão: o maravilhoso futebol. Fica aquela situação de dever não cumprido.
Vendo a triste situação desse grande herói que se despede do maior país do mundo veio em minha mente uma reflexão.
Claro que é muito fácil falar o que quiser não estando na pele do outro, mas acredito que se sua reação fosse diferente da qual foi, de se isolar, se fechar em sua concha da tristeza e solidão, poderia ser que o mundo ficasse impressionado. E, assim, sua respeitabilidade seria maior e cheia de honrarias.
Eu agiria diferente. Mesmo na dor da perda, eu permitiria um doce sorriso em minha face, acenaria para todos, e, diante de muitos, eu daria poucas palavras. Agradeceria o imenso amor a mim ofertado, pediria perdão se em algum momento agi de maneira impensada e diria que fiz o meu melhor.
A vitória mesmo assim nos pertence. Pois só de poder estar presente em um evento que une as principais nações do mundo já é uma imensa conquista.
Muito obrigado à seleção brasileira por me fazer imensamente feliz e acreditar que ainda somos fortes.