A Esperança e a Beleza em Um Pensar

paulohenrique

Não faz muito tempo, em uma certa tarde de domingo, estava eu pressionando os botões do controle remoto, trocando os canais na TV, em busca de algo interessante para assistir. Era uma tarde acompanhada de um marasmo, sendo que ninguém naquele dia veio nos visitar. De canal em canal, parei em um que estava passando um filme de 2004 chamado “Million Dollar Baby – Menina de Ouro” do excelente diretor Clint Eastwood.

Na época, o filme fez grande sucesso a ponto de ser o “Oscar Winner” de 2005 de melhor fotografia. Muitos amigos que assistiram, não comentavam com grande entusiasmo o que realmente acharam do filme, porém, uma amada voluntária que trabalhava aqui, quando lhe perguntei o que ela achou de Menina de Ouro, ela deixou transparecer uma grande decepção.

Expressou que entende que o filme é focado no sonho de uma moça de querer ser a maior boxer do mundo, vencer todos os campeonatos para ter o cinturão de ouro, mas que eu e a Eliana, na vida que temos, somos mais que exemplo de perseverança naquilo que tudo almejamos, e que dar valor à eutanásia não é justo para o ser humano.

Sim, infelizmente tem uma parte triste no filme e, mesmo que haja já um bom tempo de seu lançamento, o assunto ainda torna-se um grande debate ao redor do mundo. Será que temos o direito de escolher o destino de nossas vidas quando nos tornamos vegetativos? Eu mesmo sou contra que tenhamos a escolha de querer morrer, mas ao mesmo tempo que sou contra, tenho grande, ou melhor, um imenso medo de por ocasião do destino, eu ficar em uma condição de nada poder fazer.

Seria um grande terror estar fisicamente ausente e por mais que a medicina explique, mas acredito sim nas possibilidades de, de repente, seu cérebro lhe trair, lhe paralisar por completo, mas as sensações e as ideias continuarem vivas.

Bem, mudando de assunto, vamos deixar estes pensamentos macabros de lado e ver a possibilidade de se escrever um texto um tanto alegre e divertido.

Faz mais de uma hora que me peguei estático, pensando no final desse filme, mas que na minha imaginação poderia bem existir Menina de Ouro 2 ou O Retorno, pois fiquei matutando algo muito interessante.

No final do filme, já não tendo alternativa, vendo a cada dia sua pupila cada vez mais sem esperança de vida e ela mesma se mutilando, mordendo a própria língua, o treinador Frankie Dunn injeta no soro que está inserido na veia de sua aluna Maggie Fitzgerald uma solução que a faz dormir para sempre e partir desse mundo para melhor.

O drama termina com o também excelente ator Morgan Freeman narrando que Frankie Dunn, depois que fez o ato, nunca mais voltou ao hospital em que a Menina de Ouro estava internada, e que também não fora mais visto nem na academia em que treinava outros esportistas para o boxe.

Sendo assim, refleti: vamos dizer que 30 anos se passaram e que o destino nos causasse uma grande surpresa. Sem que a gente espere, em algum lugar nos Estados Unidos, Frankie Dunn fica sabendo que Maggie Fitzgerald não morreu e que apesar dos anos, ela ainda permanece viva no mesmo hospital.

Assim, o desejo de ir visitá-la se desperta e largando tudo que está fazendo, ele vai de encontro ao hospital. Chegando ao local, percebe que tudo está mudado, vai à recepção e pergunta à recepcionista se tal paciente ainda permanece internada, para o que a resposta é positiva, e ainda tem a informação do andar e quarto que ela esteja.

Chegando em seu destino, fica estático durante alguns minutos em frente ao quarto da moça. Não estava acreditando no que estava vendo, pois da última vez que viu sua adorável aluna, ela não mostrava sinal de vida, mesmo estando viva.

Eis que, sem que ele espere, ela lhe vira o seu olhar e lhe expressa um lindo sorriso acompanhado de uma lágrima que percorre o caminho até o travesseiro, e assim ele entra em seu quarto, aproxima-se do leito de Maggie Fitzgerald e lhe oferta um doce beijo em sua face.

Dali em diante, ambos compartilham de seus momentos nestes 30 anos passados. Ela lhe diz de sua luta para voltar a fazer suas coisas, pintar, escrever, teclar ao computador, com dispositivos dados em sua boca. Lhe confessa também dos amores frustrados e os poucos que lhe ofertaram momentos íntimos de amor, mesmo em um quarto de hospital.

Tudo é uma alegria, uma beleza e ainda vitórias a conquistar, onde em meio a esse mundo de emoções, lágrimas se misturam às emoções onde o perdão se mostra como uma forte chama ardente, na oportunidade de esquecer um passador dolorido e sofrido.

Sabe? Eu, muitas vezes, me vejo ausente, em pensamentos absortos, os quais na hipnose percebo pequenos detalhes que fazem grandes diferenças. Mesmo em locais onde a sujeira e a poeira tomam conta, algo incrível pode acontecer, em meio e esse desafio, uma semente que o tempo levou, pode nascer uma linda flor.

Muitos de nós, em meio às nossas preocupações e responsabilidades, deixamos de notar esses detalhes que a natureza nos mostra e perdemos certa beleza que a cada instante nos cerca. Mesmo eu aqui, em meu leito, pelo pouco que saí daqui do hospital para poder sentir a brisa do tempo, tenho a certeza do quanto dura é a vida para aqueles que saem de suas camas para conquistar o sustento de seus filhos. Mesmo dentro de um ônibus, dominado pelo cansaço, você deixa de perceber o caminhar que as gotas de uma chuva fazem quando descem no vidro ao seu lado. Cada gota traz o seu brilho, para justamente mostrar que mesmo diante de tantas adversidades, a vida sim é um encanto de maravilhas e muito amor.