Mais que um abençoado Natal
Bem, esse texto é uma mensagem de Natal mas, antes dos meus desejos a todos, que na certeza vem de tudo que é bom e do melhor, vou compartilhar aqui uma gota de meu passado que, por conta do que aconteceu na semana passada no universo cinematográfico, me deixou a refletir sobre a compra de boa parte da Fox pela Disney.
Sinceramente, não vejo essa negociação com bons olhos, tenho um certo receio e preconceito sobre agora, as decisões que a Disney tomará diante de produções nada inocentes já feitas e as que estão em desenvolvimento.
Lembro mais ou menos, aos meus 5 ou 6 anos de idade, sozinho aqui, em um quarto de hospital, estava eu sem fazer nada quando de repente um senhor trajado de um terno cinza claro e um chapéu estilo clássico entrou e de surpresa me deu um Dumbo inflável. Ao olhar para o seu rosto, ele usava um bigode fino sendo moda da época. Passei uns bons anos acreditando que eu recebera a visita de Walt Disney mas este faleceu em 1966 e essa gota de minhas saudades se passa em meados de 1970.
Em alguns textos anteriores meus, eu conto poucos detalhes de como minha infância se desenvolveu aqui no instituto em que até este momento vivo. Agora, com meus cinquenta anos de idade, busco nos infinitos labirintos de minha mente momentos estes que fizeram de mim o que sou hoje. Diante de um espelho me vejo olhando atentamente para uma TV que transmite um desenho de Peter Pan. Fico encantado na inocência de acreditar que pensar em coisas boas em um instante você voa. Tema este que até hoje está fresquinho em minha mente.
Muitos outros desenhos Disney foram para mim uma obra prima dos infinitos sonhos de criança, na vontade imensa que tudo fosse real.
Porém, conforme o tempo foi passando, minha maneira de pensar foi mudando e a realidade foi se apresentando de maneira cruel.
Mas não foi somente a Disney que me fascinou com seus filmes e desenhos encantados. Para mim, a concorrente de Mary Poppins vem de uma jovem rebelde que se passa em um momento conturbado da Segunda Guerra Mundial. Mesmo em meio ao caos, a família Von Trapp transmite muita emoção em canções alegre e divertidas. A Noviça Rebelde segue quase as tradições da Disney, mas para mim supera e muito a babá que desce de guarda chuva.
Essas foram as épocas de minha infância que distantes se encontram dentro de mim. Mesmo hoje, com meio século de vida, tenho uma enorme paixão por um personagem Disney que, onde quer que eu vá, se eu ver o Mickey, um sorriso desponta em meu rosto. Todas as noite, durmo coberto por um grande e pesado cobertor, estampado por esse camundongo que amo de paixão. Dançando e marcando as horas, Mickey Mouse está em meu Apple Watch o qual nas madrugadas antes de acordar, ao tocá-lo ele me informa as horas para que eu não acorde cedo demais.
Como eu queria que Steve Jobs fosse presidente da Disney, pois foi ele o responsável de hoje, a cada ano, essa fábrica de sonhos, levar um Oscar por suas animações.
Mas, como eu disse logo acima, não vejo essa negociação com bons olhos.
Não é novidade para ninguém que todos os estúdios devem ter algum porão onde estão armazenados rolos e mais rolos de filmes esquecidos e abandonados. Até a Disney tem. O futuro dessas produções que marcaram a história do cinema ninguém sabe qual será. Alguns têm o privilégio de serem remasterizados, limpos e cuidados, recolocados no mercado em versões digitais ou em cópias em alta definição. Mas outros nem se quer passam nos olhares de grandes investimentos para terem a chance de fazer parte da coleção de um grande ou pequeno cinéfilo como eu.
Como dito logo acima, este texto é, sim, uma mensagem de Natal. Mas aí você se questiona: poxa, até agora só está falando sobre filmes, e o que tem a ver com o Natal?
Bem, eu não sei sobre vocês que leem este texto, não tenho ideia de como foram suas infâncias. Mas a minha foi como descrevi nesses poucos parágrafos citados acima.
Infelizmente, nesses dias de hoje, ao invés de considerar esta época do ano o momento mais encantador do mundo, é para muitos o pior pesadelo que estão vivendo. Engraçado que, segundo nossas tradições, este é o momento em que declaramos o amor de muitos, dedicamos o nosso melhor a quem quer que seja e é justamente esse nosso mau exemplo que consideramos hipócrita.
Assim como foi para mim, as TVs hoje têm suas programações com dizeres natalinos, as quais deixam qualquer criança encantada com o Papai Noel.
Um ar de alegria paira sobre nós e cabe a quem quer que seja, aceitar ou não esse sentimento gostoso que nos encobre, porém tudo ao nosso redor está tão obscuro que não nos permitimos sentir essa emoção que nos cerca. Estamos tão acuados dentro de nossas conchas que nos sentimos inferiores a tudo, eu também estou nessa mas, algo que jamais permite que eu desista é a esperança e a vontade de viver.
Como simbologia, sabemos que o Natal nos representa o nascimento do Amor. Deus se fez homem e nasceu entre nós pecadores para que assim, o que fosse nos dado é o amor superior a tudo e aquele amor que jamais permite que nos sintamos frustrados, cansados, desamparados e infelizes.
Mas somos seres frágeis ao extremo. O egoísmo nos domina a tal ponto de negarmos um simples sorriso ao nosso próximo.
Criamos uma geração de medrosos os quais não percebemos quem realmente precisa de um abraço. Deixar cair as nossas armaduras não é nos sentirmos nus ou desprotegidos, mas sim acreditar que mesmo sem nossas defesas temos nosso brilho, pois se vierem nos atacar é por pura fraqueza de quem se sente incapaz de suas conquistas.
Que tenhamos um Natal cheio de verdades e não somente amor como muitos dizem, pois o amor tem que ser dado a cada segundo de nossas vidas.
Cada dia que passa, nos sentimos desamparados e o medo que gera em nós nos faz agir sem pensar. Da mesma maneira que em minha infância tudo era apenas descobertas e muito brilho, hoje existe o pesar das responsabilidades herdadas por nosso aprendizado. Eu quero muito que todos sejam felizes, e que a gota da bondade, por mais que seja minúscula, tenha um poder devastador quando abraçamos a quem realmente se sente só e, pode ser quem você menos imagina, que vestida por sua falsa armadura se entrega por completo quando se sente amada.
Feliz e doce Natal para todos vocês, meus irmãos muito amados e queridos.