Preciosidades

paulohenrique

Dias atrás, eu e a Eliana estávamos prestando atenção na luz do Sol que iluminava a parede de frente de nosso quarto, a qual tem a porta de entrada. Ela mesma expressou recordar de momentos passados que foram para nós muito especiais.

Naquele breve instante com a parede iluminada, nos vem a emoção de anos distantes acompanhados por aqueles que marcaram nossas vidas. Hoje, apenas saudades permeiam nossas mentes abraçados por uma satisfação de vida muito querida.

Seria como uma câmera que ao entrar em um grande salão, sete leitos preenchiam o local cheio de vida e alegria. Éramos muito felizes ao lado de nossos irmãos queridos. E o sol quase sempre imperava dando todo seu esplendor e calor.

Hoje, aqui nesse quarto que vivemos, raramente acontece esse lindo efeito mas, quando surge, nossas almas são alimentadas com extrema alegria e muita satisfação. As lembranças que tenho daqueles momentos, estão hoje ainda frescas e bem presentes, porém, com o passar do tempo, as coisas foram mudando de forma.

Minha vida com o videogame é ainda uma maneira de sair de uma realidade amarga para poder entrar em um universo de desafios. Quando eu tinha o Super Nintendo, adquiri um hábito de preservar da melhor maneira possível o console que eu tinha. Era para mim, algo de muito valor e assim, toda vez que eu terminava de jogar, desligava tudo, arrumava os cabos dos controles com seus devidos arames que os prendiam e os ensacava com os mesmos plásticos que vinha com eles.

Com o console, era o mesmo ritual. Sempre o colocava naqueles sacos com alertas em inglês dizendo para não deixar aquele plástico nas mãos de crianças pois poderiam haver risco de sufocar. Tudo era guardado dentro de uma caixa de isopor e por último eu introduzia toda a parafernália numa caixa de papelão original da Nintendo.

Os anos foram passando e aquela caixa, de tanto abrir e fechar, começou a se desgastar. Sem deixar de mencionar que a caixa de isopor também começava a esfarelar, sendo assim, pedi a amigos que arrumassem uma pequena maleta de tecido resistente e com zíper.

Dias depois de minha solicitação, trouxeram uma maleta azul escuro com bordas costuradas de plástico vermelha e uma alça de nylon vermelha também — era muito linda. Joguei a caixa original do Super Nintendo fora e aquela maleta passou a ser o depósito de proteção do melhor videogame que a Nintendo tinha lançado. Foi o presente perfeito. Tudo cabia direitinho naquela maleta, inclusive os cartuchos.

A partir daquele momento eu pedia para a tia aquela maleta. Eu abria, tirava o console, tirava o plástico dele, dobrava direitinho e deixava dentro da maleta. Depois, pegava os controles, tirava os arames que prendiam o plástico e deixava tudo dentro daquela maleta azul. Por último pegava a fonte, tirava o plástico dela novamente e depositava dentro daquela maleta que se tornou muito valiosa.

Quando já estava com tudo que eu queria, e a fechava e sempre a deixava mais próxima possível para quando fosse o momento de guardar tudo de novo, eu não precisaria pedir.

O cabo que ficava ligado na TV eu deixava direto pois aí não seria necessário alguém ficar virando o aparelho para fazê-la funcionar. Com uma vara de madeira parecendo aquelas de sinuca com uma espátula de madeira na ponta, eu conseguia pegar a outra ponta daquele cabo e ligá-lo atrás do console. A tomada elétrica era uma extensão e assim ficava perto de mim.

A TV não tinha controle remoto. Era necessário puxar o botão “power”. Sendo assim, com a espátula presa àquela vara de madeira, eu encaixava a ponta da espátula na base daquele botão e, com muito cuidado, ele saltava para frente e a TV estava ligada. Para mudar o canal, era apenas necessário apertar o botão correspondente.

Alguns amigos na época quando vinham nos visitar, vendo eu guardando o videogame, me questionavam sobre o porquê que fazia o mesmo ritual e não deixava tudo montado já que vai jogar amanhã e sempre? Eu respondia que quero mantê-lo sempre novo e conservado.

Além desse cuidado, eu pedia a alguns amigos que me trouxesse um produto de limpeza, tipo um lustra móvel e quando traziam eu limpava cada parte do Super Nintendo. Posso dizer que, meu Super Nintendo ficou mais de cinco anos com cara de que acabara de sair da loja, só que, sem sua caixa original. Minha preocupação com ele era tão grande que comprei até uns kits de limpeza para cartuchos e conector, e assim foram meus extremos cuidados com consoles futuros.

Infelizmente eu tive que parar esse ritual em 2006, Com meu primeiro e ainda vivo Playstation 3, não tenho forças física para carregá-lo, pois é bem pesado. Se eu fizer esse ritual com ele, o risco de cair no chão é bem grande.

Para eu conseguir o console seguinte, eu sempre tive que vender o anterior e assim, jogando “Donkey Kong”, me despedi do Super NES, uma tristeza que durou meses até eu conseguir o primeiro Playstation.

Com o videogame da Sony o ritual foi o mesmo. Comprei outra maleta forrada para proteger o meu console. Comprei kit de limpeza de CDs para proteger os jogos contra riscos. Conforme os anos foram passando, novos consoles vinham. O Nintendo 64 foi uma época encantadora. Era 1998 quando um médico que trabalhava aqui foi para os Estados Unidos e o trouxe para mim.

Era uma certa noite naquele ano, eu estava comendo um x-salada quando de repente batem a porta. Ao abrir era esse médico que veio nos visitar. Naquele momento, vendo eu comer “porcaria” me entrega uma sacola com o aparelho dentro e pede desculpas pois teve que tirar ele da caixa original. Com a ansiedade tomando conta de mim, engoli com tudo o sanduíche e fui me deliciar com Super Mario 64 que mudou minha vida.

1998 foi um ano muito especial em minha vida. Não por conta do videogame, mas sim por ter sido a primeira vez que eu tinha alguém que se assumiu ser minha namorada. A primeira vez que ela veio foi na véspera de meu aniversário, era uma sexta-feira. Nós conversávamos muito nos chats do UOL e assim ela veio me ver. Naquele momento, um amigo que estava aqui disse a ela que o dia seguinte, seria o meu aniversário e disse para que ela viesse novamente.

A surpresa foi que no dia seguinte ela veio e partiu daí uma grande amizade. Trocávamos mensagens via e-mail ou mesmo ficávamos direto no telefone. Suas visitas começaram a ser frequentes e uma vez ela me enviou um cartão virtual. No cartão, não me recordo os dizeres mas, lembro que havia um beijo desenhado. Na tarde do dia em que ela me enviou esse cartão virtual, ela veio e me perguntou o que eu havia achado. Respondi que achei muito legal.

Porém, ela pediu que eu novamente o lesse. Lendo o cartão eu disse que havia gostado muito e ela me perguntou se eu entendi o que estava escrito. Quando respondi que sim, sem que eu esperasse, ela tira o chiclete de sua boca e beija a minha.

Acredito que, a sensação que todos têm, quando de alguma maneira, você é desejado, é algo mágico e encantador. Sempre tive essas crises amorosas as quais, praticamente todas, fui rejeitado. Já me apaixonei muito nessa vida e, quem sabe um dia, eu derrame aqui, minhas condições e maneiras de amar mas, as que me rejeitaram, foram demais doloridas.

Mas, naquele momento, naquele doce beijo, que hoje me vem a saudade, foi o inicio de uma busca intensa de algo que até hoje não consegui. Foi um namoro de poucos meses, atormentado por carências afetivas e descontrole emocional. Infelizmente, chegou a um ponto que não tive mais controle e assim, chegando para mim, em um dia no final de dezembro de 1998, ela me diz que o dia anterior, foi sua primeira vez que experimentou o “Planet Hemp”, não entendendo o que ela quis dizer, ela confessa ter feito o uso de drogas. Assim, ela se deixou ser levada por algo fora do meu alcance.

Uma parte desse episódio que me traz boas lembranças foi quando ela disse que seu tio, era dono da “Hi Happy”, a maior loja de brinquedos que existe aqui no Brasil. Assim, ela me deu de presente de Natal, o cartucho para o Nintendo 64 “Zelda —Ocarina of Time”, jogo esse que me livrou das dores de um adeus que ainda acredito, poderia mudar muito minha vida.