Meu início no universo dos videogames
No final da década de 1970, mais ou menos, tive acesso a uma tecnologia que para mim, naquele momento, era algo jamais pensado existir, o videogame. Foi um médico que, já há algum tempo aposentado, em uma manhã trouxe o seu console e ligou em uma TV em cores de 14 polegadas. Com toda a atenção na TV, ao ligar o aparelho fiquei maravilhado com a mágica que ele fazia –explodindo mísseis que vinham do espaço, destruindo uma cidade. No ambiente eletrônico, conheci o jogo “Missile Command”, que me fascinou.
Instantes depois de umas jogadas, ele desliga aquele aparelho, tira uma peça meio quadrada da parte de cima do console e coloca outra no lugar. O aparelho desligado mostrava na TV apenas aquelas telas cheias de chuvisco, um som chato de algo fora do ar. De repente, ele liga novamente o aparelho, a tela na TV fica escura e, em instantes, surgem um monte de seres enfileirados, formando colunas, indo em sincronia para a direita. Quando chegavam no limite, iam para a esquerda. O legal disso tudo é que tinha um canhão na parte de baixo que, quando você apertava o botão vermelho do comando, saia um tiro, acertando estes seres estranhos que a cada ida e vinda para a esquerda e direita ficavam mais próximos. O objetivo era eliminar estes seres antes que invadissem a Terra. “Space Invaders” era um jogo que dava nos nervos mas era viciante.
Mais algumas horas depois, o médico que trouxe aquele aparelho o desliga e tira aquela caixinha do console e coloca outra no lugar. Dessa vez, era de uma nave que se podia guiar para os dois lados. Você atirava nos inimigos que surgiam ao redor e, além de tudo, tinha que salvar alguns seres humanos que pediam socorro. Esse jogo chamado “Defender” foi o que mais me chamou atenção.
Não me lembro ao certo mas, aquele console ficou aqui no hospital um dia ou dois, pois o médico que o trouxe, o levou de volta para sua casa.
Fiquei tão encantado com aquilo, que dias depois, me atrevi a fazer uma vaquinha, na tentativa de conseguir um videogame para mim. Na época, além de mim, havia mais cinco amiguinhos, sendo que o mais próximo de mim era o Pedrinho.
Passei dias atrás das pessoas que pudessem ajudar na conquista daquele sonho. Eu pedia até para visitas de outros pacientes que eu nem sequer conhecia. Para mim, o mais importante era ter um videogame. No final daquele ano, depois da festa de Natal que eu e meus amigos de quarto fomos convidados, havia uma grande caixa em cima de minha cama. Ao abri-la, um novo mundo em minha vida surgiu, algo que permanece até hoje em minha alma, pois foi dado o início dessa imensa paixão: ganhei meu primeiro videogame, o Telejogo II.
Daquele ponto em diante, eu e o Pedro nos transformamos na dupla dinâmica dos jogos eletrônicos aqui do hospital. Passávamos horas, dias, meses jogando intensamente cada jogo que havia no console.
Alguns anos se passaram, e o Telejogo não era mais tão interessante assim. Foi quando descobri que aquele console que o médico de anos antes trouxe para nos divertir era o Atari. Depois dessa descoberta, o sonho que mais estava presente para mim era o de ter um Atari.
No Natal de 1982, uma prima minha que praticamente me adotou como filho, além de me ofertar todo seu amor –pelo qual até hoje eu sou imensamente grato–, me deu de Natal o Atari que tanto eu queria. O avanço tecnológico dos games estava presente, e assim, eu e o Pedro estávamos prontos para entrar em novas aventuras.
O Atari ficou um bom tempo com a gente. Com muitos cartuchos, de aventuras à la Indiana Jones em “Pitfall” ou tentando destruir os grandes andantes AT-AT de “Star Wars”, eu e o Pedro ficávamos envolvidos ao máximo nesses jogos, sem sentir o tempo passar. “River Raid” era o título em que o Pedro se mostrava excelente jogador, passando horas sem morrer. Eu ficava surpreso com a quantidade de pontos que ele conquistava. Momentos de total concentração, em estágio avançado no jogo ele passava correndo em busca de combustível para não deixar o seu avião morrer, ao mesmo tempo em que destruía navios e helicópteros.
Chegou um momento que o Atari não nos trazia mais felicidade. Queríamos algo melhor, descobrir novos mundos. Assim, busquei oportunidade de conseguir um terceiro videogame.
Tínhamos a visita frequente de um padre que sempre nos confortava com seu jeito doce de ser. Muitas vezes eu, em minha revolta humana, confessava-lhe momentos ruins que me atingiam e, sem saber o que fazer, procurava caminhos em sua companhia que pudessem me ofertar tranquilidade. Eu tinha certas ideias e atitudes e algo que ele sempre me dizia e que até hoje permanece em minha mente, era para eu refletir quanto aos caminhos que eu escolhia seguir.
Hoje, tenho a herança dele da boa conduta e respeito aqueles que me cercam. Claro que escolhi direções erradas e no arrependimento, vivo na minha ostra.
Esse padre nos era um verdadeiro pai, sempre estava presente quanto a gente menos esperava e assim, nos transmitia grande alegria. Em uma dessas visitas, pensei que ele pudesse realizar o sonho de ter um novo videogame e assim, em meados de 1988 no mês de dezembro, lhe pedi esse presente, no que sua resposta foi que veria a possibilidade.
Em janeiro do ano seguinte, surpreendentemente, ele nos presenteia com um console que seria o início do envolvimento com a Nintendo. O Phantom System, um videogame da antiga Gradiente, nos veio ofertado com imensa alegria, juntamente com o cartucho “Ghostbusters”. Desconhecíamos naquele momento, qual sistema seria esse videogame, tanto que, dias depois, ganhamos de presente de um voluntário que trabalhou aqui, o cartucho “Alex Kidd”, o que infelizmente não era compatível com esse aparelho e sim, um outro da TecToy, o Master System.
O Phantom System durou anos com a gente, muito mais que o Atari. “Mario” era o cartucho mais jogado, seguidos de outros inesquecíveis: “Predator”, “The Final Mission”, “Street Fighter 2010: The Final Fight”, “Heavy Barrel”, “Legendary Wings”, “Solomon’s Key”, “Battletoads” e “Contra”.
A quarta geração de games chegou, e muitos amigos que vinham nos visitar, tentavam nos convencer a ter um Mega Drive, também da TecToy aqui no Brasil. Confesso que algo não me permitia ver o console da Sega, dos Estados Unidos com bons olhos. Eu sempre dizia que não, que tinha certeza de que um dia a Nintendo lançaria um novo console, melhor até que o Mega Drive.
Em 1994, depois de economizar um dinheiro e conseguir convertê-lo em dólar, pedi a uma amiga que pudesse trazer dos EUA o Super Nintendo. Naquele momento, ela disse que sua irmã estaria voltando de Boston. Sendo assim, ela depositaria esse dinheiro na conta dela e assim que ela voltasse e se nada desse errado, eu teria esse videogame.
Eu sempre tive a intenção de ter um videogame que o Pedrinho pudesse jogar comigo, e confesso que na ideia de comprar o Super NES, tive um certo medo de ele não se adaptar.
Era um domingo, não me recordo qual o mês. Já tinha passado o dia e a tarde. Eu sabia que aquele seria o dia de receber o novo console mas não tinha a certeza se daria certo. Poderia ser que a alfândega tivesse pego e não permitisse que fosse entregue. Estava passando um filme dos Trapalhões na TV, porém, eu estava extremamente ansioso. A cada instante, eu tentava olhar para o corredor, para ver se esta amiga vinha com o console. Passavam quinze minutos e nada, quase uma hora e a frustração já estava presente. Quando já triste por achar que o videogame não viria, eu olhando para a porta de entrada do quarto, vejo nossa amiga com uma grande caixa na mão. Naquele momento, meu corpo esquenta de tanta alegria, e mais uma vez, com “Super Mario World”, o envolvimento com essa tecnologia fantástica me completa, com grande alegria e muita satisfação. Eu e o Pedro, vivíamos dias no mundo encantado de “Super Mario”.