Reflexões sobre a Pele

paulohenrique

Há certos momentos na vida que nos encontramos tão despidos, que mesmo o ar que encosta em nossa pele, nos provoca medo e pânico.

Nos sentimos extremamente frágeis quando nos encontramos em meio ao coração partido, como aquele lindo e exuberante vaso de cristal que devido a um golpe sofrido, se destrói com a brutal queda ao chão.

Milhões de pedaços iluminados pelo Sol, revelam marcas que o tempo deixou, onde cada brilhar conta uma história de amor. Somos assim, lindos cristais, que durante uma vida toda recebemos golpes doloridos, nos provocando dor e cansaço.

Nos abraçamos em um canto escuro da sala, e quando olhamos para a frente, vemos a luz do Sol que vem de uma janela alta. Aos poucos, em passos lentos, aquela luz começa a se aproximar de nós. Vemos ambiente ausente, uma solidão palpável, e mesmo sabendo que somos únicos naquele mundo, há algo que nos mantém acordados. Observamos a poeira dançar ao vento, sendo aquecida pela luz celeste que, de certa maneira, nos dá o calor da vida.

Quando menos esperamos, a luz vinda da janela aquece nossos pés. Nos questionamos o porquê de nossa existência, se estamos em um mundo onde somente a dor e a tristeza fazem de cada um de nós seus escravos. Fazemos parte de um reino amaldiçoado onde não há paz, apenas guerras.

Mas é nesse mundo que devemos lutar, gritar com toda a força de nossos pulmões para destruir as amarras do abraço mordaz, que nos faz crer sermos incapazes de lutar e vencer.

Assim nos sentimos quando estamos destruídos na alma. Projetamos isso para o externo, até termos marcas em nossas peles a ponto de criar feridas supuradas que por nos deixarem extremamente feridos, não sentimos a dor física, mas sim a dor em nossa existência.

Eu mesmo já senti ou sinto ainda esses momentos que me cercam. Temos a certeza de que são momentos amargos, e nos sentimos obrigados a engolir cada sentimento que nos provocam, sem ao menos estarmos preparados para receber tais dissabores da vida.

Houve um tempo em minha vida, quando, ainda na inocência do conhecimento da paixão e do amor, acreditava que estes sentimentos não seriam como uma flecha que acertasse sem piedade os nossos corações. Naquele momento, a pessoa que meu coração amava sentia de uma certa maneira que estava sendo amado, recíproco. Durante suas férias, escrevi em cada dia em sua ausência, uma carta de amor. Foram mais de 31 dias sem sua presença, em que cada carta apenas um sentimento se expressava, o amor.

Este não foi o único episódio em minha vida, em que esse sentimento surgiu como uma explosão de emoções muitas vezes desconhecidas. Aliás, não foi nem a primeira onde sem estar preparado, entro em um mundo jamais visto. Completamente nu, sinto a aspereza desse lugar que marca nossa pele com um fogo ardente, onde nossos gritos, por mais altos que sejam, ninguém ouve.

Não quero paz em minha vida pacífica, não quero conforto em meu lar protegido, mas quero sim lutar, me atrever a agir e caminhar. Pisando em cada espinho, até o momento que a dor não seja mais incômoda e sim um sinal das dádivas que a vida tem por nos ensinar.
Sinto-me estranho, não há dor em meu estômago, mas um vazio e não é de fome, pois eu acabo de comer. Sinto-me estranho, algo como se eu estivesse em frente ao espelho, pudesse ver um vazio em meu ventre.

Ainda bem que está passando…