A Batalha sem Fim

paulohenrique

Este texto é puramente fictício.

Às vezes, fico perdido em meus caminhos. Cada passo pesado, em um solo amargo onde deixo minhas pegadas sangrentas.

Olho ao meu redor, um horizonte claro, coberto por um céu escuro, onde somente uma brisa fria, sem vida, provoca arrepio em minha pele.

Pássaros voam ao longe, formando círculos na espera de uma chance para descerem. Não há morte nesse lugar, mas também não há vida.

O cinza é a cor que predomina nesse mundo que é somente meu.

Estou ajoelhado, olhando para baixo, sentindo o suor correr em minha face. Não consigo mover os braços, muito menos me erguer para continuar minha caminhada. À minha esquerda, meu escudo pesado tem marcas de golpes dados sem misericórdia. À minha direita, minha longa espada quase destruída pelas batalhas que a cada dia enfrento.

De repente, um pássaro voa rasante por cima de meu ombro direito, provocando o som do bater de suas asas bem próximo a mim. Ela se afasta em linha reta à minha frente, anunciando que algo atrás de mim está por vir.

As manoplas de minhas mãos refletem algo bem acima de mim. Algo que não sinto a força e a coragem de virar o meu rosto e encarar o que possa ser.
O vento torna-se forte, trazendo, além do frio, um ar quente vindo de algum ser atrás de mim que acaba de soltar o ar de seus pulmões.

Nesse mundo onde estou não há calma, não há paz, não há derrota. Sendo o único homem vivo nesse cenário, sinto-me obrigado a invocar, de todas as maneiras, qualquer força contra aquilo que se aproxima.

Olho novamente para o meu escudo, que mesmo perto mostra-se a quilômetros de distância. Olho para minha espada, que mesmo estando a centímetros de minhas mãos, parece algo que a cada segundo se afunda no chão.

Sinto o tilintar das gotas da chuva que se inicia baterem em minhas pesadas ombreiras.

Novamente, aquele vento quente passa em minha nuca, deixando um calafrio dominar minhas costas.

Por mais que eu tente, meus braços se tornam inúteis, parecem mortos, desconectados de meu corpo.

Em instantes, sinto as mãos quentes em meus ombros, que além de um ser que se aproxima lentamente, provoca um peso além do que eu possa suportar.

A dor me abraça, me persegue, me cerca. Qual a razão de estar em busca da esperança em um lugar como este, se na realidade isso é algo que jamais existiu? Para que manter a chama da vida viva, se onde estou os dias são, em sua maioria, sempre cinzas e escuros.

O peso no ombro, além de insuportável, faz com que o chão onde me ajoelho comece a ceder.

O tempo é curto, não posso me dar ao luxo da derrota.

Busco no fundo de minha mente algo que faça meus braços reviverem; algo tem que acontecer, e eu quero viver. Não estou aqui para me sentir um derrotado, muito menos dar chance ao fracasso.

Minhas mãos começam a tremer, meus dedos abrem e fecham fazendo minhas manoplas rangerem.

Em um impulso, a chama da vida dentro de mim provoca uma explosão, onde em um movimento extremamente rápido decepo o monstro da derrota que a cada segundo tenta engolir minha alma. Novamente, em pé, e armado, sigo em frente para continuar a batalha, pois ainda tenho muito o que enfrentar.