Mãe

paulohenrique

Não tenho ideia nem lembranças de quando foi que, pela primeira vez, recebi a triste notícia de que minha mãe falecera dois dias depois do meu nascimento.

Foram anos que vivi apenas com a imagem fantasiosa de uma bela moça, que estaria sempre ao meu lado em meus tempos de choro e solidão.
Teve momentos em que primos distantes me perguntavam se eu já havia visto, ou mesmo tido, uma foto de minha mãe, sendo que a verdade foi sempre negativa.

Não me sentia preparado, em vários momentos, para que a imagem fantasiosa de quem eu considerava ser o meu anjo materno fosse desfeita. Durante esse tempo, olhando para o céu, azul ou nublado, sentia o calor de uma linda e bela moça, que sempre me acolhia quando a solidão me abraçava.

Mas esse tempo não durou muito. Quando adulto, tive o impulso de ir atrás da verdadeira face de minha matriarca. Acho muito linda essa palavra, “matriarca”. Conheci-a em um documentário sobre elefantes, seres muito especiais para mim, que mostram com extremo detalhe o verdadeiro elo de como cuidar de seus filhos.

Mesmo durante anos sem ter a minha mãe por perto, tive a grande sorte de ser adotado e muito bem cuidado por muitas mães. Não que eu as considerava como tal, mas cada uma que trabalhava aqui na época de minha infância foram mães. Hoje ainda há, mas são bem poucas.

Antes de uma visita de meu pai, em 2001, pedi carinhosamente a ele que me trouxesse uma foto de minha mãe.

Quando meu pai estava ao meu lado, parecia que o tempo havia parado, pois o momento mais que especial estava para acontecer. A imagem fantasiosa de uma bela moça se transformara em uma imagem real, pois sim, minha verdadeira mãe é uma linda mulher. Ao receber sua foto, e vislumbrar cada pedacinho da imagem, apenas me veio o desejo da ilusão, de como seria se ela estivesse viva.

Foto da mãe do autor. (Crédito: Acervo pessoal)
Foto da mãe do autor. (Crédito: Acervo pessoal)

Muitas vezes afirmei que, se minha mãe estivesse viva, eu não moraria em um hospital. Eu estaria ao seu lado, no leito materno, recebendo todo o amor que um ser humano pode dar para o seu filho.

Não que eu esteja reclamando, ou sendo mal-agradecido, do destino que me foi dado. Como eu disse, fui e sou muito bem cuidado, por muitas mães. Mas penso que não ter tido a chance do calor amado de onde realmente vim me faz estar sempre perdido em um labirinto de emoções, as quais muitas vezes me derrubam.

Cada erguida é um sofrimento doloroso. Me pergunto se realmente tudo vale a pena, e esses pensamentos me cercam, como aves escuras a grasnar que me incomodam. Mas jamais permito que essas aves tirem um pedaço de mim, pois são essas dificuldades que me fazem erguer, olhar para frente e continuar a minha batalha.

Se o amor de meu pai e de minha mãe foram reais, aqui estou, para mostrar ao mundo que, sim, tudo vale a pena.

Que todas as lindas mães do mundo sejam sempre abençoadas pelos seus frutos, que são para o mundo o futuro e o avanço da longa e maravilhosa vida.