Ser humano, há falhas

paulohenrique

Há uma guerra interna em cada um de nós. Nem sequer sabemos por que lutamos tanto. Nosso início do dia não passa apenas por acordar, esfregar as mãos no rosto, tentar limpar a visão com os dedos e apreciar o mundo ao redor. Quando começamos a ter consciência, somos metralhados por grandes preocupações, pensamentos afogados na ansiedade de tudo. Isso nos leva a nos perguntar:  o que estamos fazendo aqui?

Em meio a esse caos, pedimos desesperadamente por ajuda, num silêncio ensurdecedor, em que somente escutamos nossas vozes como um grito de horror. De qualquer maneira, temos que acordar, colocar a farda da vida e enfrentar o que há pela frente.

Eu vejo uma visão de solidão, em que somos castigados, flagelados e humilhados. Ajoelhado, diante de um tribunal, somos julgados sem nenhuma misericórdia. Olhamos para baixo, não tendo coragem de olhar para aqueles que estão ao nosso redor, os que nos apontam dedos e gritam palavras torpes. Não temos coragem de encará-los, pois sabemos muito bem que são: nós mesmos.

Temos tanto medo de quando acordamos que não enxergamos o sol iluminando e aquecendo o nosso dia, mesmo que o céu esteja coberto por espessas nuvens. Ou quando chove, o frescor úmido das gotas molhadas que dão vida aos vegetais nos oferece um som e aroma que mais nos convence a querer dormir do que despertar.

Já acordado, banhado, primeira refeição do dia feita, estamos prontos para ao menos pensar; mas mesmo nas reflexões agimos como se estivéssemos sendo atacados sem ao menos o seu próximo ter lhe feito algo.

O que há nesse mundo hoje para perdermos nossa sensibilidade?

Não apenas na maneira dócil de ajudar as pessoas, mas também de perceber a brisa, o calor e o mundo a nossa volta. Estamos hoje enclausurados, trancados em uma concha, onde a única pérola linda e brilhante revela a nossa beleza, e esta, ao invés de exibirmos, preferimos escondê-la a todo custo.

Eu mesmo, me defendo tanto e na minha defesa acabo por agir sem pensar, na hostilidade. Seria bom se, de repente, o tempo parasse naquele instante e eu pudesse ter o ímpeto de agir de maneira coerente e consciente para não permitir que minhas atitudes criem o contra-ataque.

Estamos num momento absortos pelo medo que nos cerca e, se considerarmos o ato de enfrentar as pessoas em nossa defesa como coragem, estamos muito mais que cegos, estamos alheios à nossa completa razão.

Houve uma pesquisa, não muito recente, em que os principais cientistas do mundo responderam a uma pergunta um tanto quanto curiosa: “Como será o ser humano daqui a 50 mil anos?”.

Parte da resposta, para mim, foi dada bem antes de promoverem esse debate, em um episódio da série de TV americana “Jornada nas Estrelas”. Nele, a tripulação da nave espacial Enterprise encontra um planeta com seres que têm poderes telepáticos extremos, justamente pelo tamanho exagerado de seus cérebros. Um dos pesquisadores respondeu que daqui a 50 mil anos não teremos forças físicas nem para apertar um botão. Apesar disso, segundo o cientista, já estamos preparando nosso futuro de maneira que tenhamos condições de vida, e a ausência completa de emoção seria um desse fatores.

Triste para o homem chegar a esse ponto, pois, por mais que lutemos em prol de nossa razão e existência, o ato realmente de coragem é você se dedicar por completo para aqueles que realmente precisam, seja física ou emocionalmente.

Não dá para crer realmente nessas teorias. Do jeito que estamos caminhando, podemos acabar com tudo em um tropeço, permitindo que um “Ops, acho que fiz besteira!” seja a última expressão que deixaremos como marca de nossa existência.