Leuce

paulohenrique

Este texto é puramente fictício.

Em um morro alto na Ilha Lefki, Leuce observa o mar revolto que cerca a terra conhecida como Ilha da Serpente. Enormes ondas se chocam com as pedras calcárias, formando uma cortina fria e molhada. O som soa como o de um monstro desconhecido.

Seu olhar fixo para o horizonte cinza espreita, sem piscar, em busca de ameaça. Leuce jamais permitiria que seus poucos sobreviventes fossem aniquilados. Nem ao menos há a chance de, entre esse pequeno povo, existir algo que mude suas atitudes e maneira de pensar. O único som que se ouve é apenas do vento e do mar.

Leuce, a branca, onde quer que pise, torna tudo o mais alvo que possa imaginar. Às rosas, não permite “rosear”. Nem mesmo o verde caule tem a sua cor natural. Tudo é branco, tudo é alvo, tudo é claro.

Mas, de repente, ela sente algo no ar. E volta o seu olhar para o Templo de Aquiles. Algo a incomoda, e sua atenção volta-se por completo para os escombros do que um dia foi um santuário sagrado.

No templo de Aquiles, tudo tranquilo e suave. Entre o branco de tudo que há, existem também os cristais que exercem sua beleza. Tudo puro, intocável, sem pecado.

Dois rapazes fixam seu olhar sobre uma mesa branca de pedra. Apesar de parecer limpa, há algo que chama a atenção de ambos. Quase que imperceptível, há um pontinho escuro. Estáticos, ele passam minutos olhando aquele pontinho que os faz pensar. Num instante, um deles move o seu braço, como que querendo tocar aquele ponto escuro da mesa.

— Se você tocar nele, eu juro que o mato!

Uma ameaça que quebra o silêncio, pior que o rajar de um relâmpago.

— Temos que tirar isso daqui, está me incomodando.

Responde, calmamente, a vítima que recebeu o ímpeto de seu irmão.

— Por que o incomoda?

— Eu não sei, me faz pensar, me faz querer.

— Deixe-o aí onde está. Não sabemos do que se trata. Só quero que cresça, que se torne algo, que viva.

— Como pode saber se há uma vida aí? Como pode crer que um dia isso possa se tornar algo grande?

A vítima sai de sua clausura interna e encara quem está em sua frente, apertando sua mão em punho.

— Não sei, apenas sinto, que isso pode mudar tudo. Até mesmo, entre mim e você…

Os irmãos se olham fixamente. Em suas mentes, uma explosão de emoção surge. E nem mesmo eles têm controle sobre isso. Lágrimas descem de seus olhos, pois algo os impulsiona a agir. Quando retornam seus olhares para a mesa, entram em desespero, pois o ponto escuro desapareceu. Quando se dão conta, Leuce, não muito distante, lança o seu sopro, destruindo tudo aquilo que invade o mundo. Isso quebra toda a emoção que em um instante surgiu na Ilha da Serpente.